Nasceu um belo domingo de Sol, após vários e vários dias gelados, geados e nublados, hoje nasceu um belíssimo domingo de Sol.Acordei agradavelmente tarde, mas ainda cedo para a hora do almoço. Vi o Sol brilhar pelas frestas da janela, ouço os passarinhos da árvore ao lado de minha janela. Hum... que delicia, adoro um domingo de Sol.
Levanto-me bem disposto, a noite de ontem foi bem gostosa, recebi um convite inesperado para dançar, o que é sempre muito agradável. Dancei a noite toda, ate cansar e ainda um pouquinho mais. Boas parceiras, divertidas com o jeito bem charmosinho do pé de serra que muito me lembra minha amada Brasília.
Levanto de minha cama, cato meu chinelo jogado pelo quarto, me direciono ao banheiro como usual, lavar o rosto, rir do meu próprio cabelo desgrenhado, escovar os dentes, todas essas coisas gostosas matinais, que só podem ser feitas aos domingos. Logo na sequência, vou para a parte externa e ensolarada de minha casa, dar bom dia para meu cachorro, me esquentar um pouco ao Sol. Pego uma banana na fruteira, pego duas, porque sei que o Thor vai querer e definitivamente é difícil resistir a um olhar de um cachorro pidão, sendo este um Boxer, este ato se torna impossível.
Então vamos lá, chinelos, cabelos desgrenhados, bananas para o desjejum e porta fora eu vou. Ao abrir a porta aquela costumeira festa que um canino faz ao ver seu dono, o meu em especial tem um leve síndrome de peão, ele começa a pular e girar em torno do próprio eixo quando o atiço. Mas aqui em casa são dois, o Thor que é meu e o Che que é do meu companheiro de Republica. O Che é um vira lata pego na rua ainda filhote, bem dócil, mas bem chato às vezes, ele tem o péssimo habito de morder as canelas do Thor.
Enquanto estou despindo meu café da manha (e os dois babões na espreita pela deles) me ocorre que é dia dos pais, nossa, melhor ligar prós meus. A vida me presenteou com vários pais, o que me toma algum tempo nas ligações dominicais, mas nada que não o faça com gosto.
Eu tenho o meu pai Jorge, que é realmente meu pai mesmo, tenho meu pai Xande, que foi meu padrasto enquanto morava em Brasília, tenho meu pai Sobreira que é na verdade meu avô materno, e também tem meu pai Tio Sergio, que é na verdade pai de minha amiga de infância.
Busco celular e enquanto divido a banana dos cachorros ligo para meus queridos pais. Problema um: meu celular só funciona no viva-voz, o que foi bem interessante ao falar com meu pai(avô) Sobreira pois devido ao seu status de avô e consequentemente, sua idade avançada, tive de falar bem alto o que causou a curiosidade de meus vizinhos republicanos e do simpático senhor da casa da frente.
- Feliz dia dos pais Vô
- Ohh menino, muito obrigado, como está ai em Santa Catarina?
- Ah...tudo ótimo, to aqui tomando Sol com meu cachorro pra esquentar
- Nevou aí meu filho?
- Não vô, na ilha não neva (ai fui eu tentar explicar a estabilidade térmica causada
pela água do mar e a impossibilidade de nevar numa ilha, o que obviamente não deu certo) mas fez muito frio sim
- É que a sua vó viu aqui no noticiário que estava nevando em Santa Catarina, aí ficamos preocupados com você, mas que bom que você está bem. E a monografia, já acabou?
- ( ainda nem comecei penso eu) ta indo vô, aos poucos né. (acho isso incrível nos familiares, falam a adolescência inteira sobre a importância de estar numa universidade, mas quando estamos nela, só perguntam quando vamos formar)
- oh meu filho, sua tia Zaira(tia minha mineira e confeiteira) fez um doces aqui, você quer algum?
- Tem doce de leite vô?
- Tem sim, quando você for a Brasília você pega então. Oh, vou depositar um dinheirinho lá na sua conta para você poder tomar um sorvetinho por aí (dinheiro pro sorvete sempre consiste numa grana alta que daria para comprar muito mais que um sorvetinho, típico gesto de meu avô)
- E as namoradas, como estão? ( na cabeça do meu avô eu sempre estou namorando, e todas elas chamam Carolina, que foi minha primeira namorada quando tinha 15 anos)
- Estou solteiro vô, não to muito a fim de namorar ninguém não.
E por aí vem uma série de perguntas sobre a banda, o trabalho, as leituras, meu vô sempre teve o maravilhoso costume de me dar livros e me perguntar sobre eles como um incentivo a leitura, o ultimo que eu ganhei dele foi “A viagem do Elefante”, do Saramago, bem legal por sinal.
Ligo então para meu pai Jorge, quem atende é minha pequena paixão, que também atende pelo nome de Irma mais nova Carolina Vailati. No auge de seus oito anos, ela me pergunta se eu vi “meu malvado preferido” no cinema, e se põe a contar todo o filme, tim tim por tim tim.
Converso com meu pai, meu irmão José, minha madrasta ultra divertida Carminha, respondo novamente que na ilha não neva, mas que sim, que tinha passado bastante frio.
Findadas as ligações paternais, resolvo bancar o paizão e levar os dois cachorros para um gostoso passeio pelo bairro onde moro. Sei que umas quatro ruas abaixo da minha, tem um terreno baldio bem grande, onde posso levá-los e deixá-los soltos para se divertirem.
Então vamos, troco rapidamente a roupa, pego as guias dos dois e me lanço a rua. Meusenhor!!! Aquelas cenas de filmes com uma pessoa levando vários cachorros é real, um puxa para um lado, outro para o outro, eles dão nó neles mesmo, me agregam ao nó, me passam algumas rasteiras com as guias, mas aos trancos e barrancos, vou conseguindo levá-los ate o éden canino da liberdade.
Agora um pequeno problema, em qual rua eu desço? Caminha para lá, para cá e nada de lembrar onde era a maldita rua com o terreno baldio. O calor do Sol já me obrigara a tirar o moletom que vestia o que dada as ultimas temperaturas foi um grande feito.
Ah...lá está a rua, atravesso a Lauro Linhares, que felizmente esta pouco movimentada, uma menininha brinca com o Che no outro lado da calçada, o Thor prega um susto em um senhor distraído e continuamos nosso caminho.
Finalmente chegamos ao nosso ponto de diversão, solto as guias, deixo que eles corram a vontade, procuro um pedra para me sentar e ali fico observando os dois correndo e brincando enquanto o sol revitaliza o numero de vitaminas D de meu corpo.
Vejo que existe uma cerca, meio capenga, mas ali marcando o terreno que é realmente grande, fico imaginando quanto valeria, pensando numa casa ali, chegando a conclusão que o valor da casa ali, eu prefiro voltar para a praia, e por fim, me lembrando que toda a minha riqueza acumulada não passa de 50 reais restantes do mês passado em minha conta.
Nesse momento, percebo que perdi os dois de vista, o que às vezes acontecia, mas não durava mais que um minuto, então assobio e chamo pelos dois. É quando vejo ao longe, o Thor correndo pelo mato, logo na sua cola vem o Che também correndo e logo na sua cola um Boi bem enfurecido.
Nunca vi esses cachorros correrem tanto, saíram em disparada vindo em minha direção, porém, um canal largo nos separava, o Thor se depara com o canal, e imagino que nesse momento ele realmente pensa: Ta...agora fudeu!
O Che esta a dois passos dele assim como o boi que não perde em nada na corrida para os dois menores. Então os dois caninos resolvem dar a volta por todo o canal, chegando quase a pista, passando pela calçada e voltando vindo para o meu lado do canal. Nesse ínterim o boi desiste de sua perseguição e volta a sumir atrás de um muro semi caído.
Os dois ofegantes caem ao meu lado, e lá ficam estirados por um bom tempo. Eu, rindo, muito daquela cena ainda, espero que eles retomem seu fôlego e tomo o caminho de casa.
Lição que aprendi como no meu dia dos pais, nunca deixar seus filhos brincarem com bois, isso pode causar falta de ar (com as risadas dadas) e exaustão física neles.
Ah sim, pergunta se os dois fizeram mais alguma coisa nesse dia...passaram o restante do dia jogados a sombra, só se levantaram para comer e olhe lá