Próxima parada: Rio de Janeiro, a
Cidade Maravilhosa.
Popular em todo o planeta por
suas belas praias, mulheres e noitadas a cidade maravilhosa é e eternamente
será digna do clichê “o Rio de Janeiro continua lindo”. Realmente essa cidade é
linda, mobilidade ótima, metrô a cada 5 minutos que leva para todos os lugares
da cidade com apenas uma passagem, NO QUAL OS ESTUDANTES DE ESCOLAS PÚBLICAS NÃO PAGAM, faixas exclusivas para os ônibus diminuindo
o transito, além o incetivo ao uso de recursos sustentáveis como bicicletas
a baixíssimo custo (10,00 por mês) e ciclovias que cortam boa parte do acesso as praias, locais de comum
congestionamento durante a estação do verão.
As pessoas andam na rua sorrindo
e fazendo brincadeiras um com os outros. Costume esse muito interessante da
população carioca, a interação gratuita. Estar numa fila de super mercado, no
ponto de ônibus ou mesmo no banheiro de uma festa é certeza que alguém irá
puxar papo contigo aleatoriamente, sobre qualquer assunto, como se fossem
conhecidos desde o tempo de escola. O mais interessante é que o assunto
encerrado, a condição de desconhecidos volta ao patamar inicial e cada um segue
seu caminho. Uma pequena dose de conversa gratuita.
Mas uma coisa é alarmante no
costume carioca, especificamente nos condutores do transporte pública amarelo
conhecido como táxi, ou TX a moda carioquês. Existem três tipos de direção, a
defensiva, comum a uma pequena parcela de motoristas, normalmente mais idosos,
ofensiva, quadro geral da população brasileira e o modo motorista de taxi no
Rio de Janeiro, também conhecido como método GTA de direção. Da vinda da
rodoviária (centro da cidade) até aqui na Zona Sul, eu contei sete tentativas
de derrubar motociclistas (uma por pouco não bem sucedida), quatro coladas na
traseira alheia e pelo menos vinte fechadas enquanto brinca de corte e costura
sem usar setas. E é claro, um aumento exponencial no meu acervo de xingamentos
para o transito.
Existem alguns outros costumes
cariocas clássicos, que mesmo sendo você de outra cidade ou estado, rapidamente
se adéqua a esse. O clássico “aie, vamos marcar uma cerveja hein – vamos sim,
te ligo” e a tal cerveja nunca acontece. Esse costume é tão costume que já faz
parte da cultura carioca ao ponto que ninguém fica mais bravo ou dispensa tempo
algum para explicações da ausência no tal encontro.
Como é comum na maioria das
praias brasileiras, o Rio também compartilha do ideal de segregação social e
estéticos para a escolha de qual deve ser o local a ser frequentado na praia,
ou popularmente conhecido como o point (gíria essa usual desde o tempo em que
minha avó era garotinha de Ipanema). Em minha ultima visita (quatro anos
passados) o point ficava na praia de Ipanema, a famosa pela bela garota de
Vinícius, entre os postos 09 e 10. Especificamente o 10 era a galera a favor da
liberação política da Canabis e o 09 era os que apoiavam a diversidade sexual.
Entre esses dois postos, lá se localiza toda a galera dedicada a vida social na
praia, com seus corpos esculturais e papos vazios. Homens pombos como me
explicou o meu carioca e bom entendedor dessas práticas sociais, primo
Marquinhos.
Agora em 2012 alguns fatores
moveram tal grupo estético e social para alguns postos a cima. Fator 01: Agora o metrô também
vai a Ipanema, o que necessariamente leva os grupos sociais C e D para os
postos 09 e 10. Fator 02: Devido a política em prol dos diretos dos homossexuais, o posto
09 se manteve como o local de encontro dos grupos GLS, com direito a bandeiras e
sungas bem coloridas e beijos públicos, vitória para eles. Fator 03: Os usuários de
maconha perderam seu espaço, tanto geográfico como político, pois o combate ao
fumo (felizmente) aumentou e com isso os cigarros de maconha também entraram no
hall do incomodadores públicos.
Mas não há interesse em nenhum da classe média
burguesa zona sul carioca em se unir ao pessoal “favelado” como dito no
carioquês. Então eles migraram para o posto 12, na praia do Leblon, agora limpa
graças ao Fator 04: Os últimos prefeitos têm feito um intensivo trabalho de despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, lagoa essa que
desemboca na praia do Leblon. Então somados a esses e outros fatores modais que realmente são incompreensíveis o novo point é o Posto 12.
No posto 12 sim, gente bonita para todo lado, com
todo o arsenal estético e social necessário, óculos Rabiam no rosto (os mesmo
que minha avó usava), biquínis e bermudões fabricados na china e etiquetados na
Itália e seus celulares conectados das redes sociais para saber “qual é a boa
da night”.
Mas o que mais me chamou a atenção
nesse grupo específico está longe do padrão global de beleza, mas o costume
noturno. Meu primo, como um bom anfitrião, me levou para o lugar mais badalado
da cidade. Tratando-se de Rio de Janeiro, o esteriótipo da favela é mais que
comum, e lá fomos nos, morro a cima. Na quadra do Santa Marta, ou Morro da
Alegria. Devido a política de pacificação das favelas, hoje os morros cariocas
são tranquilos e frequentados por todos. Uma expropriação do poder local e transferência do
lucro diretamente para as milicias urbanas e Estado na verdade, mas com isso, todo playboy e patricinha da burguesia carioca pode realizar o sonho de subir o morro e dançar
na escola de samba e manter o status de conhecedor das origens da cultura carioca.
Curiosidade a parte, não havia na festa um integrante da
população local do morro, apenas patricinhas e playboys extremamente bem vestidos.
Preço para entrar, 50 reais por pessoa e cada cerveja a 7,00 reais. Final da
conta de três pessoas que não consomem tanto 230,00! A pergunta fica, qual
individuo, morador daquela localidade tem condição de pagar tanto por uma
noite? E ainda mais importante, o quanto desse dinheiro fica realmente para a
comunidade do Santa Marta? Vi ali policiais fortemente armados ( e jovens,
teoricamente, para não repetir os vícios de seus antecessores ligados a prática
da mesada do tráfico de drogas), vi bancos onde pude sacar o montante para
aproveitar a minha noitada como um clássico burguês zona sul, mas não vi
hospital ou escola.
Se o Rio de Janeiro continua lindo, é lógico
que sim. Se vive nas ruas um clima de tranquilidade e paz como há muitos anos
não se via, turistas se hospedam no Vidigal e a vista mais bela do réveillon
não foi a de costumeira Copacabana, mas a da Favela da Rocinha, também
pacificada, de onde os turistas e locais puderam contemplar todo o espetáculo
da orla carioca. Mas ainda é necessário manter os olhos abertos, pois a
pacificação a força está tirando os poderes locais e abrindo espaço para um
novo tipo de organização, que não usa sandálias, mas terno e gravata. Torço de
todo o meu coração para que a Cidade Maravilhosa possa viver em harmonia
sempre, mas que para isso, toda a população carioca, do playboy zona sul ao
morador do Santa Marta, possa viver também em harmonia e em boas condições!
Vídeo sobre a desocupação das favelas em prol das construções para as Olimpíadas e Copa do Mundo
Arte na areia, praia da Copacabana, Rio de Janeiro 2012
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