segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Cidade Maravilhosa


Próxima parada: Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa.

Popular em todo o planeta por suas belas praias, mulheres e noitadas a cidade maravilhosa é e eternamente será digna do clichê “o Rio de Janeiro continua lindo”. Realmente essa cidade é linda, mobilidade ótima, metrô a cada 5 minutos que leva para todos os lugares da cidade com apenas uma passagem, NO QUAL OS ESTUDANTES DE ESCOLAS PÚBLICAS NÃO PAGAM, faixas exclusivas para os ônibus diminuindo o transito, além o incetivo ao uso de recursos sustentáveis como bicicletas a baixíssimo custo (10,00 por mês) e ciclovias que cortam boa parte do acesso as praias, locais de comum congestionamento durante a estação do verão.

As pessoas andam na rua sorrindo e fazendo brincadeiras um com os outros. Costume esse muito interessante da população carioca, a interação gratuita. Estar numa fila de super mercado, no ponto de ônibus ou mesmo no banheiro de uma festa é certeza que alguém irá puxar papo contigo aleatoriamente, sobre qualquer assunto, como se fossem conhecidos desde o tempo de escola. O mais interessante é que o assunto encerrado, a condição de desconhecidos volta ao patamar inicial e cada um segue seu caminho. Uma pequena dose de conversa gratuita.

Mas uma coisa é alarmante no costume carioca, especificamente nos condutores do transporte pública amarelo conhecido como táxi, ou TX a moda carioquês. Existem três tipos de direção, a defensiva, comum a uma pequena parcela de motoristas, normalmente mais idosos, ofensiva, quadro geral da população brasileira e o modo motorista de taxi no Rio de Janeiro, também conhecido como método GTA de direção. Da vinda da rodoviária (centro da cidade) até aqui na Zona Sul, eu contei sete tentativas de derrubar motociclistas (uma por pouco não bem sucedida), quatro coladas na traseira alheia e pelo menos vinte fechadas enquanto brinca de corte e costura sem usar setas. E é claro, um aumento exponencial no meu acervo de xingamentos para o transito.

Existem alguns outros costumes cariocas clássicos, que mesmo sendo você de outra cidade ou estado, rapidamente se adéqua a esse. O clássico “aie, vamos marcar uma cerveja hein – vamos sim, te ligo” e a tal cerveja nunca acontece. Esse costume é tão costume que já faz parte da cultura carioca ao ponto que ninguém fica mais bravo ou dispensa tempo algum para explicações da ausência no tal encontro.

Como é comum na maioria das praias brasileiras, o Rio também compartilha do ideal de segregação social e estéticos para a escolha de qual deve ser o local a ser frequentado na praia, ou popularmente conhecido como o point (gíria essa usual desde o tempo em que minha avó era garotinha de Ipanema). Em minha ultima visita (quatro anos passados) o point ficava na praia de Ipanema, a famosa pela bela garota de Vinícius, entre os postos 09 e 10. Especificamente o 10 era a galera a favor da liberação política da Canabis e o 09 era os que apoiavam a diversidade sexual. Entre esses dois postos, lá se localiza toda a galera dedicada a vida social na praia, com seus corpos esculturais e papos vazios. Homens pombos como me explicou o meu carioca e bom entendedor dessas práticas sociais, primo Marquinhos.

Agora em 2012 alguns fatores moveram tal grupo estético e social para alguns postos a cima. Fator 01: Agora o metrô também vai a Ipanema, o que necessariamente leva os grupos sociais C e D para os postos 09 e 10. Fator 02: Devido a política em prol dos diretos dos homossexuais, o posto 09 se manteve como o local de encontro dos grupos GLS, com direito a bandeiras e sungas bem coloridas e beijos públicos, vitória para eles. Fator 03: Os usuários de maconha perderam seu espaço, tanto geográfico como político, pois o combate ao fumo (felizmente) aumentou e com isso os cigarros de maconha também entraram no hall do incomodadores públicos. 

Mas não há interesse em nenhum da classe média burguesa zona sul carioca em se unir ao pessoal “favelado” como dito no carioquês. Então eles migraram para o posto 12, na praia do Leblon, agora limpa graças ao Fator 04: Os últimos prefeitos têm feito um  intensivo trabalho de despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, lagoa essa que desemboca na praia do Leblon. Então somados a esses e outros fatores modais que realmente são incompreensíveis o novo point é o Posto 12.  

No posto 12 sim, gente bonita para todo lado, com todo o arsenal estético e social necessário, óculos Rabiam no rosto (os mesmo que minha avó usava), biquínis e bermudões fabricados na china e etiquetados na Itália e seus celulares conectados das redes sociais para saber “qual é a boa da night”.

Mas o que mais me chamou a atenção nesse grupo específico está longe do padrão global de beleza, mas o costume noturno. Meu primo, como um bom anfitrião, me levou para o lugar mais badalado da cidade. Tratando-se de Rio de Janeiro, o esteriótipo da favela é mais que comum, e lá fomos nos, morro a cima. Na quadra do Santa Marta, ou Morro da Alegria. Devido a política de pacificação das favelas, hoje os morros cariocas são tranquilos e frequentados por todos. Uma expropriação do poder local e transferência do lucro diretamente para as milicias urbanas e Estado na verdade, mas com isso, todo playboy e patricinha da burguesia carioca pode realizar o sonho de subir o morro e dançar na escola de samba e manter o status de conhecedor das origens da cultura carioca. 

Curiosidade a parte, não havia na festa um integrante da população local do morro, apenas patricinhas e playboys extremamente bem vestidos. Preço para entrar, 50 reais por pessoa e cada cerveja a 7,00 reais. Final da conta de três pessoas que não consomem tanto 230,00! A pergunta fica, qual individuo, morador daquela localidade tem condição de pagar tanto por uma noite? E ainda mais importante, o quanto desse dinheiro fica realmente para a comunidade do Santa Marta? Vi ali policiais fortemente armados ( e jovens, teoricamente, para não repetir os vícios de seus antecessores ligados a prática da mesada do tráfico de drogas), vi bancos onde pude sacar o montante para aproveitar a minha noitada como um clássico burguês zona sul, mas não vi hospital ou escola.

Se o Rio de Janeiro continua lindo, é lógico que sim. Se vive nas ruas um clima de tranquilidade e paz como há muitos anos não se via, turistas se hospedam no Vidigal e a vista mais bela do réveillon não foi a de costumeira Copacabana, mas a da Favela da Rocinha, também pacificada, de onde os turistas e locais puderam contemplar todo o espetáculo da orla carioca. Mas ainda é necessário manter os olhos abertos, pois a pacificação a força está tirando os poderes locais e abrindo espaço para um novo tipo de organização, que não usa sandálias, mas terno e gravata. Torço de todo o meu coração para que a Cidade Maravilhosa possa viver em harmonia sempre, mas que para isso, toda a população carioca, do playboy zona sul ao morador do Santa Marta, possa viver também em harmonia e em boas condições!

Vídeo sobre a desocupação das favelas em prol das construções para as Olimpíadas e Copa do Mundo

                        Foto tirada da favela da Rocinha pacificada no Réveillon de 2012

                         Arte na areia, praia da Copacabana, Rio de Janeiro 2012 


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