domingo, 21 de novembro de 2010

O chuveiro...a saga final (espero)!

O final da semana tão almejado finalmente chega, mas ainda melhor que os fins de semanas depois de duras semanas de trabalho é um feriado prolongado com direito a casa vazia. Meu caro companheiro republicano havia saído pelo feriado para estar com seus parentes próximos, ou seja, a casa todinha para mim durante o feriado. Oba!

Estar em casa sozinho é uma delicia, posso deixar a louça na pia se quiser, posso andar nu pela casa, posso botar o som na maior altura possível. Entre outras coisas tão boas quanto, mas devido ao caráter (de possível) grande alcance que este texto possa ter, restringirei-me a somente estes atos.

Lá estava eu, dormindo tranqüilo e feliz sob meus cobertores, curtindo os primeiros sons da manha, me espreguiçando como os felinos costumam se espreguiçar pós siestas. Eis que me telefone toca, me obrigando a levantar. É bom que seja alguma coisa importante para atrapalhar minha tão deliciada preguiça.

- Por favor o Sr. Thiago Sobreira.

- (emitindo aquela linda voz de locutor de radio ao acordar) É ele, quem fala?

- Aqui é o proprietário da casa, recebi uma chamada sobre problemas na rede elétrica, você estará em casa agora à tarde?

- Sim, claro! Vocês já vem hoje mesmo?

- Sim, lá pelas duas pode ser

Tateio minha escrivaninha procurando por meu relógio, alguns livros caem, alguns textos vão de carona na queda, acho meu relógio, são 11:30 da manhã. Se eles chegam as 14:00, da tempo de acordar, comprar um pão...

- Beleza, as 14:00 aqui em casa então.

- Confirmado.

Agora a dúvida matinal, tomar banho? Sair assim mesmo? Mas meu cabelo deve estar um ninho de mafuá, cadê meu boné? É então que realizo a situação. Não vou tomar banho, espero pelos técnicos e finalmente, depois de dois meses de banho frio, posso tomar um banho quente. Nossa, meu dia de chuva começou a brilhar imediatamente. Banho quente, finalmente!

Saio pela rua, cantarolando, como quem tivesse “se dado bem” na noite anterior, feliz da vida em direção a padaria. Dou bom dia ao padeiro, ao caixa, ao florista, ao pivete que veio me pedir dinheiro...Ao chegar em casa, levemente suado de caminhada matinal penso: Não tem problema, porque hoje eu vou tomar um banho BEM quentinho.
Antes mesmo de terminar minha visualização de tal banho quente, meu celular toca, é o proprietário avisando que não poderá vir no horário combinado, que somente na segunda feira.
Até mesmo em minha imaginação meu banho se tornou gelado como um dia de inverno quando entra a frente fria. Duplo banho de água fria, o do proprietário ao avisar que não viria e o banho propriamente dito, afinal, estava sujo e suado.

Eis que a segunda feira chega. Uma manha daquelas bem geladinhas, boa para ficar na cama até começar o vídeo show e a barriga roncar. Ainda mais acompanhado como eu estava. Definitivamente, não há nada melhor em uma manha fria, que um corpo quentinho na cama e os cobertores. Vou abrindo os olhos devagar, sinto o frizinho da manha, sinto o calor do aconchego dela, instantaneamente, me vem àquela conhecida vontade matinal, cheio de carinhos e preguiças. Começam as caricias e os beijinhos nas costas nuas, mãos passeando aleatoriamente, corpo se encostando, calor aumentando, corpos já mais próximos, mãos mais firmes e...

- OH DE CASA! CLAP CLAP CLAP – THIAGO, VOCÊ TA AÍ?

-Shh...não fala nada, talvez eles vão embora...

- OH DE CASA, É O ELETRICISTA, TEM ALGUEM EM CASA?

- Putaquepariu...ja volto ta?! Dou um beijo nela, procuro minha calça de moletom e meu chinelo, coloco uma camisa enquanto saio pela porta, indignado grito – JÁ VOU!

Olho para o portão, lá estão duas figuras bem interessantes, um senhor trajando bermuda capri e sandálias de couro e ao seu lado, um homem bem pequeno. Continuo descendo a escada e o senhor já faz uma brincadeira sobre a minha cara de total sono – feriado é bom né guri, mas aí chegam uns caras para atrapalhar seu sono, fica difícil.

Dou um sorriso meio amarelo, abro o portão e os indico o caminho para a casa. Mostro a eles que meu chuveiro, a luz da cozinha, a luz externa, a luz da garagem, nada não funciona. O menor então abre o alçapão no vão central da casa, alçapão que, diga-se de passagem, há três anos morando nesta mesma casa, eu nunca tinha reparado nele.

Depois de alguns minutos lá em cima, ele desce e traz consigo o veredito: É vamo ter que trocar toda a fiação mesmo, ta tudo moído lá em cima! – La vão eles, comprar a nova fiação, o novo relógio, novo rejunte, nova casa...

Alguns minutos depois estão de volta, mas dessa vez somente o eletricista, o proprietário aproveita para visitar as outras casas que aluga. O eletricista se lança a função, sobe outra vez pelo alçapão, desce, corta fios, concerta a parte elétrica da cozinha, brinca com os cachorros, corta mais fios, sobe outra vez no alçapão, desce outra vez, parece uma formiguinha indo de lá para cá o tempo todo. O mais interessante são os “causos de vida” contados por ele:

- esses dias fui no médico né, aí a doutora me perguntou: O senhor tem algum problema de coração? E eu respondi: só quando to apaixonado doutora; então a doutora: mas além desse, algum outro problema? Ah doutora, só financeiro mesmo!

Mas desse pequeno trabalhador, ganhei um grande ensinamento. Conversávamos sobre política, (quando não se sabe qual assunto puxar, escolha entre, política, futebol ou tempo, esses tópicos são ótimos introdutórios de papos furados para passar o tempo do taxi, elevador, ônibus, eletricista arrumando sua casa...) afinal, não fazia um dia que o Brasil havia elegido sua primeira presidente mulher.

- O senhor Thiago gostou da Dona Dilma como “presidenta”?(termo usado pela candidata durante a campanha e no discurso de vitória)
- Gostei sim, gostei da idéia de termos uma mulher no comando, elas são mais organizadas que nos homens não?
- Nisso eu concordo, mas não gostei dos “amigos” dela, ela ta com o Collor (ex-presidente brasileiro deposto por acusação de corrupção. Fato conhecido como “os caras pintadas”). Sabe, se tem um coisa que eu aprendi nessa vida é que mulher é igual o povo, gosta de ser enganado! Então me preocupo com uma presidente mulher, vai que ela gosta de ser enganada também.

Realmente um grande aprendizado, sobre política e principalmente sobre questões femininas. E eu achando que minha manhã seria desagradável. Não vou analisar o discurso dele sobre questões de gênero na presidência ou na vida cotidiana, nem mesmo sua ideologia política, apenas absorver tais conhecimentos, pois são valiosos.
Ah sim, fim da historia, meu chuveiro voltou a funcionar, assim como toda a rede elétrica da casa e agora posso tomar banho quente sempre que tenho vontade!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Eugenia na literatura brasileira

Texto usado na Matéria de Historia e Saúde, simbolizando um futuro em que a Eugénia Sócio-racial entrou em vigor.

Apesar de produzido por mim, não concordo em nada do que está escrito, é apenas uma obra fictícia para simbolizar a mentalidade vigente de uma pequena elite que viveu e ainda vive no Brasil


A Eugenia na literatura brasileira.

Não é de hoje que a eugenia pode ser vista nos periódicos e livros de literatura em nosso país. Ao analisar a literatura do início do Séc. XIX podem-se encontrar vestígios de movimentos eugenistas no Brasil. Como por exemplo, na obra de Monteiro Lobato, onde a figura do Jeca Tatu, retrato do caipira indolente, que “de qualquer jeito se vive” é considerado fruto da mestiçagem entre os filhos de escravos e indígenas com o imigrante europeu do início do período republicano. Não há exemplo melhor para demonstrar como a mestiçagem entre as raças é a causa de retardamento de atraso dos países tropicais e subdesenvolvidos. Jeca Tatu passa o dia atormentado por seus bichos-de-pé e vermes na barriga. Tem preguiça até mesmo de viver sendo a sua maior companhia uma garrafa de cachaça. Conhecido como umas das “patologias dos Pobres”, o alcoolismo é entendido como fraqueza emocional ou psíquica das camadas mais baixas da sociedade, principalmente aquelas que em sua trajetória histórica, sofreram algum tipo de mestiçagem.

A figura de Jeca Tatu nasce para mostrar como o homem mestiço do campo é atrasado se comparado ao civilizado e branco homem urbano. Em um tempo de progresso, as tradições do campo, assim como as remanescentes escrevas ou indígenas, não conseguem espaço, devido ao seu pouco caso com o trabalho e o culto ao ócio e a preguiça.

Não é para pouco que em 2012, a Academia Brasileira de Letras retira o titulo de “herói nacional” do personagem Macunaíma de Mário de Andrade, pois este, símbolo máximo da preguiça e vadiagem, era ainda usado por setores inferiores da educação ligadas ao projeto “Brasil, o país do Samba e do Futebol”. Projeto este que consistia em reafirmar os estereótipos do brasileiro malandro e preguiçoso, com o incentivo a projetos desportivos e musicas nas escolas de base, elucidando os ditos grandes nomes da musica, como Cartola, Vinicius de Moraes, entre outros que como o próprio Mário de Andrade tanto prega, cultuavam o conhecido a famigerado “ócio produtivo”.

Há também na obra de Monteiro Lobato o forte reafirmação com a personagem de Tia Anastácia, a negra que trabalha na cozinha do Sitio do Pica Pau Amarelo. São encontradas a ela referências a animais como urubus, macacos e “feras africanas”.
Estas fazem menção revestida de estereótipos ao negro e ao universo africano, que se repete em vários trechos do livro analisado. Como por exemplo, o lugar físico-social em que a personagem ocupa na casa do Sítio, remetendo a antiga tradição escravocrata de que lugar de negro é na cozinha ou na senzala.

Podem-se encontrar referências ao retardamento nacional devido à mestiçagem até mesmo antes do advento da primeira republica brasileira, como é o caso da pesquisa dos naturalistas Louis e Elizabeth Agassiz ao visitar as populações ribeirinhas do Rio Amazonas em 1865:

“O resultado das ininterruptas alianças entre os que têm sangue mestiço é uma espécie de homens nos quais o tipo puro desapareceu, e com ele todas as boas qualidades físicas e morais das raças primitivas, deixando em seu lugar, um povo abastardado, tão repulsivo como estes cães vira-latas, que provocam o horror dos animais da sua própria espécie, nos quais é impossível descobrir um único individuo que tenha conservado inteligência, a nobreza, a afetividade natural que fazem do cão de tipo puro o companheiro e favorito do homem civilizado” (AGASSIZ, 1975).

Em seu livro, Viagem ao Brasil (1865-1866), Agassiz, refuta as teorias do pesquisador Charles Darwin sobre a miscigenação e melhoria da espécie a partir dos conceitos vigentes de seu período de separação e melhoria da raça branca. “ quem tiver alguma dúvida sobre os males que a mistura de raças pode provocar (...) que vá ao Brasil”

Varias foram às medidas tomadas para que este projeto entrasse em vigor, desde a literatura moralizando infantil de Monteiro Lobato, colocando o negro em seu devido lugar social, até mesmo os projetos urbanos como a reestruturação da zona central do Rio de Janeiro, conhecido hoje por nós através do livro de Aluizio de Azevedo, o Cortiço. Que nada mais retrata do que a promiscuidade e vagabundagem vivida pelas classes baixas daquele período.

Segundo Doris Sommer, não há como separar o erotismo, patriotismo e o entendimento de estado-nação nos romances latino-americanos. “O erotismo faz parte dos costumes latino-americanos” Logo, não havia outra solução para que este país se desenvolvesse e perdesse a marca de preguiçosos que por tantos anos nos perseguiu do que a limpeza racial e social das camadas que atravancavam as engrenagens do progresso e desenvolvimento.