domingo, 28 de agosto de 2011

Discurso da Formatura de História UFSC


Boa noite a todos os presentes, autoridades e colegas...
Em primeiro lugar, queremos agradecer àqueles que, de alguma forma, sempre estiveram ao nosso lado durante essa caminhada e que fizeram dos nossos os seus objetivos. Esta alegria hoje comemorada, devemos a vocês, pais, que não mediram esforços para que isso tudo se tornasse possível.
Nós duas que estamos aqui nesta Tribuna permanecemos por alguns boooons anos nesta Universidade...
Assistimos a várias formaturas... de História, dos nossos colegas das Ciências Humanas, e também de outros cursos dos mais diversos centros.
Passamos a graduação desnaturalizando as comemorações e as cerimônias, e analisando os discursos. E agora, estamos aqui seguindo esse mesmo padrão...
O conceito de formatura muito semelhante ao termo latino, se aproxima muito do significado de padronização.
“Formatura” tem parentesco com as palavras “formatar”, “formatado”, /fôrma/..
Então, se você está se formando hoje pode significar que você entrou na /fôrma/, foi formatado...
Falando em formatação, já aviso aos colegas que ainda não fizeram o TCC que agora o tamanho não é mais o do papel A4... agora o TCC tem que caber em papel A5... segundo as indicações da biblioteca universitária.
Formatar é, portanto, padronizar! Talvez por isso tantos alunos geniais abandonem os mais diversos cursos de graduação... quem sabe eles sejam grandes demais para caber em uma forminha...
Nós, apesar de nos sentirmos ‘formatados’ nesta roupinha padronizada, estamos contentes de estar aqui falando o que pensamos ...
Estaríamos equivocados se falássemos sobre as noites em claro que os alunos desta turma passaram estudando para as provas, ou qualquer coisa desse blá blá blá padronizado. Ou, ainda, se inventássemos ou forjássemos tradições para esta turma, só para agradar aos ouvidos de todos os presentes.
Aliás, aproveitamos para falar que aqui não temos uma turma e sim 17 alunos soltos que se conheceram apenas de vista ou ficaram amigos nas festas ou nos bares. Apesar disso, estamos cientes de que seremos futuros colegas de profissão e possivelmente poderemos nos esbarrar em diversas situações.
O fato é que, por conta da diversidade não contemplada nas cerimônias de formatura, muitos alunos do curso de História não participam desse tipo de evento.
Fica, nesse sentido, a reflexão do por que será que tantos alunos abdicam deste momento e decidem colar grau em gabinete...
Apesar de toda nossa crítica, estar aqui hoje representa um privilégio.
Primeiro, o de termos entrando em uma Universidade.
Segundo, o de termos estudado em uma Universidade Pública.
E, terceiro, o de termos conseguido nos ‘formar’ nesta universidade.
Ser um privilegiado significa que você tem algo que a maioria das pessoas não têm: o acesso ao ensino superior público e gratuito. Então, será que podemos ter a alegria plena desse privilégio?
O curso de História nos fez ter a noção de que não podemos nos contentar em passar a vida reclamando do problema educacional deste país, mas sim que devemos arregaçar as mangas e fazer algo de concreto no sentido de modificar esta realidade, mesmo que isso signifique abdicar de um futuro farto e confortável.
Por isso, senhores pais, por favor, não lamentem que a carreira de seus filhos não aponte para um futuro materialmente farto.
Senhores professores, magnífico reitor, por favor, não utilizem o tempo de seus discursos para procurar alternativas para a pobreza que aparentemente bate à nossa porta.
Amigos de outras áreas, não nos olhem com pena...
Há entre os alunos de História pessoas que renunciaram a empregos públicos, pessoas que abandonaram cursos de Direito e até mesmo de Engenharia...
Não somos coitados. Abdicamos das tais “melhores opções” pelo desejo sincero e verdadeiro de fazermos o curso e nos tornarmos professores ou pesquisadores de História. 
Além disso, pelo fato de que, acima de tudo, acreditamos em uma educação pública e de qualidade, sem enchermos a boca para falar neste discurso.
Pois, mesmo sabendo de todos os problemas pelos quais um professor passa em sua profissão, ainda assim escolhemos esse ofício.
O fato é que hoje é um dia de muita alegria. É um momento muito esperado e significativo para quem teve a perseverança de passar 4, 5, 6 ou mais anos dentro desta universidade, insistindo neste diploma.
Por isso, pedimos a todos os presentes que entendam que algumas pessoas têm a compreensão de que a felicidade não é diretamente proporcional ao tamanho da conta bancária.
Somos extremamente críticos e reflexivos, por isso peço em nome de todos os estudantes de história, não nos meçam com vossa régua, não nos pesem com vossa balança. Conhecemos bem as amarras desse sistema opressor, autoritário e desumano. Nosso sistema de pesos e medidas é outro. Temos outros valores.
Somos historiadores! E estamos muito contentes com isso!!!

Pelas colegas Denize Gonzaga Santo e Eloisa Rosalen